Audiência Pública sobre População de rua reúne mais de 150 pessoas na Câmara de Vitória

Audiência Pública: População em Situação de Rua - Mazinho dos Anjos

Vereador Mazinho dos Anjos

A Audiência Pública “População em Situação de rua: Desafios, Avanços e Possibilidades”, realizada pelo vereador Mazinho dos Anjos (PSD), em 31 de julho, na Câmara Municipal de Vitória (CMV), reuniu mais de 150 pessoas, entre Poder Público, especialistas, profissionais de saúde, policiais militares, associações de moradores e comerciais, movimentos populares de rua, lideranças, entre outros.

“O objetivo principal desta reunião é porque a gente vem recebendo demandas e imagens que retratam a situação de população de rua na cidade de Vitória. E a gente está vendo uma intolerância muito grande por parte da sociedade que não entende o porquê da pessoa estar naquela condição. E como é um debate democrático, convidamos todos os atores sociais envolvidos no tema para estar aqui hoje”, ressaltou o vereador.

O evento levantou pontos importantes sobre o tema a partir de pronunciamentos de autoridades, especialistas e população de rua. Um documento será enviado ao Executivo
Mesa de convidados foi composta por representantes do poder público e grupos envolvidos no tema

Segundo a Subsecretária Municipal de Assistência Social, Anabel Araújo Gomes Pereira, esse é um assunto que gera uma certa confusão, por acharem que se trata especificamente de assistência social. “Não é. A população em situação de rua não demanda somente da política de assistência social, mas de tudo que qualquer pessoa demanda, como saúde, educação e habitação. A Prefeitura de Vitória segue a Política Nacional de Assistência Social e oferece todos os serviços implantados através do Sistema Único de Assistência Social (Suas), que se renova todos os dias. E temos o programa macro, Escola da Vida, o acolhimento, o Centro Pop, que tem capacidade para atender até 100 pessoas, e fechando esse ciclo temos o espaço Escola da Vida, para as pessoas que já passaram por toda a rede, com foco na reinserção social e no mercado de trabalho”.

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Anabel Araújo Gomes Pereira

A Procuradora de Justiça do Ministério Público, Célia Araújo, citou o grupo da qual participa, que se reúne a cada dois meses com todos os servidores voltados à assistência social, atendendo a população em situação de rua. “É bom lembrar que a pessoa não está em situação de rua por livre e espontânea vontade, e, sim, porque alguma coisa aconteceu no seu seio familiar. Então, nós precisamos fortalecer esses serviços ao lado da sociedade civil”.

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Célia Araújo

“Dependência química piora a situação de pessoas em situação de rua”

Já o nefrologista João Chequer explicou que essa população passa pelo preconceito jurídico, intelectual e religioso, além do abandono da saúde e social. “A dependência química, que é o meu campo de trabalho, piora esta situação, por ser uma forma anestesiarem suas emoções. Com o uso de drogas, vem a promiscuidade, aliada as doenças infectocontagiosas, e, consequentemente, as enfermidades de difícil tratamento por falta de medicamento e vagas nos hospitais. A questão diz respeito a cada um de nós, não só do poder público”, concluiu.

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João Chequer

A Subsecretária de Estado de Assistência e Desenvolvimento Social, Clarice Machado Imperial Girelli, explicou a necessidade de integração com os outros municípios quando se trata deste assunto. “Já estamos indo nessa direção, em conjunto com o governo do Estado e as Secretarias Municipais de Assistência Social da Região Metropolitana, com o incentivo e apoio do Ministério Público. A partir desta necessidade, nasceu o Protocolo de Integração dos Serviços, que gerou na Região Metropolitana um Pacto de Metas, com os municípios assumindo compromissos para os próximos três anos”, afirmou.

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Clarice Machado Imperial Girelli

Para a Defensora Pública da União, Karina Mitleg Bayerl Rocha, a responsabilidade pela população em situação de rua é do Estado, não do Estado do Espírito Santo, e sim o Estado em seu sentido mais amplo. “O município de Vitória apresenta uma estrutura de acolhimento e atendimento, mas se os municípios, ao menos da Região Metropolitana, não apresentam a mesma estrutura, isso pode gerar uma sobrecarga no atendimento da Capital e até fragilizar a qualidade do serviço. Por isso são necessárias as parcerias, inclusive com a sociedade civil”.

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Karina Mitleg Bayerl Rocha

Em sua fala, o Defensor Público Estadual, Douglas Admiral Louzada, ressaltou a importância de não analisar essa situação apenas com uma “visão de higienização“, ou seja, de retirar essas pessoas da vista de uma classe média ou de outros segmentos da sociedade que se sentem incomodados. “A gente precisa debater este tema pensando em efetivação de direitos e de cidadania”, enfatizou.

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Douglas Admiral Louzada

População em situação de rua versus crime nas ruas

O ex-morador de rua e hoje Presidente Nacional do Movimento Popular de Rua, Bruno Donato, contou um pouco de sua história. “Perdi minha mãe muito cedo e meu padrasto era muito agressivo, por isso não encontrei outra saída senão as ruas. Hoje, estou na militância do Movimento Popular de Rua. É importante lembrar que, na mente das pessoas, os moradores de rua estão nesta situação porque querem, mas não é verdade. Existem pessoas domiciliadas que saem de suas casas, vão para as ruas para usar drogas, cometer pequenos delitos, retornam para casa e a culpa cai sobre a população de rua”.

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Bruno Donato

O Tenente Coronel da Polícia Militar do Espírito Santo, Geovanio da Silva Ribeiro, do Comando do 1º Batalhão, ressaltou a importância da Audiência Pública de tratar o tema além das fronteiras da segurança pública. “É preciso estar no campo onde propriamente deve estar, da assistência social, da saúde, da necessidade de políticas públicas focadas nas necessidades daqueles que mais precisam. Há muito que entendemos que morador de rua vai casar com criminoso, nem usuário de drogas, pode acontecer, mas são coisas absolutamente distintas e precisam de tratamento diferencial. E por isso precisamos estar preparados para atendê-los”, acrescentou.

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Geovanio da Silva Ribeiro

Já o Tenente Sampaio, representando a 3ª Companhia do 1º BPM que integra a Praia do Canto, alertou que o atendimento mais complexo da corporação é o de população em situação de rua. “Pessoa em população de rua é também problema de segurança pública, porque na abordagem contemporânea de polícia, hoje, a gente discute a possibilidade do crime antes que a pessoa se torne um criminoso. Então, quando a gente faz uma abordagem preventiva, existem policiais treinados para isso”, enfatizou.

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Tenente Sampaio

População em situação de rua e os Direitos Humanos

A Gerente de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Neiriele Marques da Silva, alertou que é preciso abrir os ouvidos, os olhos e o coração para tudo o que foi dito na Audiência Pública. “Porque se a gente já vem com uma certeza de tudo, nada daquilo que foi dito aqui, tanto pelos especialistas, quanto por aqueles que vivenciam no dia a dia as ruas, esse evento não vai valer de nada”.

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Neiriele Marques da Silva

Ela ainda explicou que é inconcebível num prédio onde se localiza a Secretaria de Estado de Direitos Humanos estabelecer uma norma onde só pode entrar no local com sapato fechado e calça. “Isso limita o cidadão de acessar o seu direito”.

Para terminar, Júlio Moraes, da Secretaria Estadual de Saúde, explicou que desde 2012, através de uma área técnica da Promoção da Equidade, o órgão vem discutindo a política de saúde da população de rua. “Não existe solução fácil para uma situação tão complexa, a gente já inseriu no Plano Estadual de Saúde essas questões, o diálogo é constante, principalmente com o Movimento Popular de Rua e isso é essencial”.

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Júlio Moraes

Após as falas, o vereador Mazinho dos Anjos abriu o debate para os participantes da Audiência Pública, todos esses questionamentos serão colocados em um documento que será encaminhado ao Executivo.

Conheça os pontos que foram deliberados na Audiência Pública:

– A solicitação à Prefeitura Municipal de Vitória (PMV) para que realize uma pesquisa que retrate o perfil/quantitativo de pessoas em situação de rua no município de Vitória

– Reiterar o Pedido de Informação acerca do aluguel social, para verificar quais as pessoas em situação de rua o programa atende (a PMV alegou sigilo nas informações). Já foi solicitado à Procuradoria da CMV um parecer para a quebra do sigilo. Também já foi feito Pedido de Informação de como os recursos do programa estão sendo aplicados.

– Proporcionar melhorias na legislação municipal sobre o tema, especialmente o Decreto nº 15.070/2011 e Decreto nº 15.413/2012, relacionados à composição da Câmara Intersetorial de Políticas Públicas para População em Situação de Rua (CAI POP), visto que atualmente apenas o Poder Público por meio de suas secretarias a compõe. A intenção é que outros atores sociais que atuem na área também tenham poder de voto.

– Aumentar as vagas nos abrigos.

– Sugerir que um percentual dos recursos economizados do duodécimo do ano de 2019 da CMV seja destinado à população em situação de rua. A Lei Orgânica permite que parte desse recurso vá para a assistência social.

– Fazer um debate sobre a revisão habitacional do município.

– Encaminhar pela criação de uma Frente Parlamentar para ampliar o debate acerca da população de rua, envolvendo todos os atores sociais atuantes na área.

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